Transporte Moderno
13/11/2025 07h30
O sistema de consórcio tem se fortalecido como uma das principais alternativas para aquisição de veículos pesados no país. Em um cenário de juros elevados e crédito mais restrito, a modalidade segue atraindo transportadores que buscam planejar a renovação da frota com custos previsíveis e sem juros, segundo Luiz Antonio Barbagallo, economista da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
“É uma modalidade que tem apresentado bom desempenho e mantém o crescimento dos anos anteriores”, afirma Barbagallo. Ele explica que a adesão ao consórcio está diretamente ligada à
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O sistema de consórcio tem se fortalecido como uma das principais alternativas para aquisição de veículos pesados no país. Em um cenário de juros elevados e crédito mais restrito, a modalidade segue atraindo transportadores que buscam planejar a renovação da frota com custos previsíveis e sem juros, segundo Luiz Antonio Barbagallo, economista da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
“É uma modalidade que tem apresentado bom desempenho e mantém o crescimento dos anos anteriores”, afirma Barbagallo. Ele explica que a adesão ao consórcio está diretamente ligada à educação financeira e ao planejamento de longo prazo dos transportadores.
“O fator preponderante para o crescimento do consórcio em todos os segmentos é a renda familiar, com 80% de correlação, e não a flutuação da Selic, a taxa básica de juros da economia.”
O economista cita como exemplo o comportamento do setor em anos recentes: em 2020, mesmo com a Selic em 2,75%, o consórcio cresceu 5%; já em 2021, com a taxa a 4,4%, a alta foi de 14,7%. “A taxa de juros pode ter uma pequena influência, mas creditar o sucesso do consórcio à Selic não é verdade”, resume.
Entre janeiro e setembro de 2025, foram vendidas 153 mil cotas de consórcio de caminhão, e a estimativa da Abac é encerrar o ano com 240 mil cotas comercializadas.
Até setembro, o sistema movimentou R$ 15,84 bilhões, sendo R$ 7,34 bilhões destinados à compra de caminhões. Apesar da queda de 16,9% nas novas adesões - totalizando 62,8 mil consorciados no período -, Barbagallo não vê motivo de preocupação.
“A base comparativa do ano passado era muito maior, por conta do volume excepcional de caminhões vendidos por consórcio em 2023 e 2024”, avalia.
Segundo ele, muitos compradores do ano passado não eram clientes tradicionais de consórcio. “Eles migraram para essa modalidade por dificuldade em obter financiamento. Agora, parte voltou ao crédito bancário, mesmo com juros altos, e outros adiaram as compras.”
Para 2026, a Abac projeta estabilidade, com leve viés de alta para o consórcio de caminhões. Barbagallo considera fatores como o desempenho do mercado de pesados, o endividamento no agronegócio e o ambiente eleitoral.
“Mesmo com esses elementos de incerteza, o sistema deve encerrar o próximo ano em linha com o resultado atual, o que já é positivo.”
Hoje, o Brasil conta com 12,2 milhões de consórcios ativos, dos quais 42% são de automóveis e caminhonetes, 25% de motos, 20% de imóveis, 7,8% de veículos pesados, 2,4% de veículos elétricos e 1,1% de serviços.
Volumes estáveis nas montadoras - O Consórcio Volvo mantém os resultados estáveis em 2025, mesmo diante de um mercado de caminhões pesados 20,5% menor entre janeiro e setembro, segundo dados da Anfavea. “Isso sugere que teremos novamente um ótimo ano, o que é um sinal positivo”, afirma Thaís Schmelzer, gerente do Consórcio Volvo.
A executiva explica que o consórcio é uma ferramenta que atende principalmente transportadoras pequenas e motoristas autônomos, que conseguem planejar a renovação da frota sem urgência. Os prazos mais longos - de até 100 meses - e as parcelas reduzidas até a contemplação tornam o produto mais atraente em tempos de crédito caro.
“No consórcio, o peso maior do pagamento só acontece quando o veículo já está nas mãos do cliente, gerando receita. Essa característica favorece os transportadores menores, com fluxo de caixa mais restrito”, explica Schmelzer.
Na Scania, o desempenho do consórcio segue positivo. A expectativa é encerrar 2025 com quatro mil cotas vendidas, totalizando R$ 2,1 bilhões em créditos - um crescimento de 2% em relação ao ano anterior, que já havia sido o melhor da história da empresa. De janeiro a setembro, foram comercializadas 2,35 mil cotas, e o último trimestre deve concentrar o maior volume de vendas.
“O fim de ano é mais aquecido porque o transportador investe hoje para receber o caminhão amanhã, garantindo planejamento e custo previsível”, afirma Rodrigo Clemente, diretor de vendas do Consórcio Scania.
O produto, que existe desde 1982, responde por cerca de 7% das entregas de caminhões da marca no Brasil. Clemente destaca a solidez financeira do sistema: “Não se trata apenas de vender, mas de manter grupos saudáveis, com baixa inadimplência e alta taxa de contemplação.”
O público predominante do consórcio Scania é formado por pequenas e médias transportadoras, com frotas entre cinco e 20 caminhões. O tíquete médio gira em torno de R$ 900 mil — valor bem acima da média de mercado, estimada em R$ 220 mil.
A Librelato, fabricante de implementos rodoviários, também aposta na modalidade. Após anos operando com bandeiras de terceiros, a empresa lançou em 2025 seu próprio consórcio e registrou resultados expressivos logo no primeiro mês: mais de R$ 100 milhões em negócios e 600 cotas vendidas.
Segundo a CEO Simone Lucas Martins, o desempenho reflete a confiança dos clientes na marca e o potencial do consórcio como canal de vendas. “O consórcio é uma forma de o cliente se programar e se organizar. Em tempos de juros altos, representa uma alternativa viável e também um importante canal de vendas para a Librelato.”
A executiva destaca que a adesão superou as expectativas iniciais. “Foram dois meses de lances e o que foi dado de lance se converteu em produto - que é o nosso objetivo”, afirma.
Com diferentes perfis de público e estratégias, montadoras e fabricantes de implementos têm encontrado no consórcio uma ferramenta eficiente de planejamento e fidelização.
Em meio à desaceleração do crédito e à incerteza econômica, o modelo segue atraindo quem busca investir com previsibilidade - e reforça seu papel estrutural na renovação da frota brasileira.

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